terça-feira, julho 31, 2007

Alfabetização

Na década de 90, fui professora da rede particular e da rede pública. Nas escolas particulares trabalhei com o método tradicional. Havia a apostila da escola, a ser seguida rigorosamente dentro do prazo estipulado pela direção. Na prefeitura, peguei a época em que a gestão de Luíza Erundina "obrigou" as escolas a adotarem o construtivismo. No geral, o que se fez foi louvável. Brinquedos de todos os tipos, bons lanches, incentivos financeiros a professores que lecionavam nas escolas distantes. Mas a própria adoção do construtivismo deveria ter sido "construtivista", permitindo que professores "construíssem" o próprio caminho, a partir do que já conheciam. Explico tudo isso porque a forma como a mudança foi imposta causou muitas dúvidas e prejudicou a forma como até hoje se "lê" o construtivismo. Naquela época, simplesmente abandonou-se tudo o que era feito e passou a um "fazer qualquer coisa" em nome da construção do saber. A verdade é que ninguém , ou quase, sabia trabalhar com isso. E, "na marra", muita gente aprendeu tudo errado. Não por preguiça, como muita gente fala, mas por puro desconhecimento. Mesmo assim, acredito que a experiência foi positiva. Principalmente porque pude observar que existia de fato alguma outra nova forma de aprender e "ensinar". Na verdade, minha melhor experiência foi no Estado. Lá, misturei minha prática da escola particular com o que fazíamos na pré-escola da prefeitura. Como novata, eu tinha, é claro, a classe com os alunos considerados os mais problemáticos da escola. Através do construtivismo, "resgatei" o interesse e a auto-estima dos alunos. Através do ensino tradicional, "ganhei" o respeito dos pais e da comunidade. Assim, usando o construtuvismo como motivação, e sistematizando o saber através do tradicional, vivi o que considero minha principal experiência com alfabetização. Foi aí que descobri o que acredito e que coloco hoje como bússola em minha escolinha particular. São as duas vertentes, aparentemente contrárias, que constroem a educação. Porque, para mim, a escola precisa preparar o indivíduo para a sociedade. E ela tem regras e exigências. Não vai achar lindo que meu aluno escreva errado, por mais profundo que seja o significado do que ele expressou, por ainda não ter "descoberto" a linguagem correta. E, por outro lado, não se pode acreditar que, como parte da sociedade da informação de hoje, esse mesmo aluno se interesse, aprenda e esteja preparado para a vida, apenas com repetições silábicas monótonas e sem signficado. O que não aceito é que se use a alfabetização politicamente, promovendo simplesmente o número de teoricamente alfabetizados, quando qualitativamente o que se tem criado é uma legião de semi-analfabetos, que ainda se comunicam. E a pergunta que fica é : se cada um continuar se comunicando com linguagem própria, em nome da descoberta do saber, e sem atenção à manutenção da língua-pátria, como será nossa comunicação daqui a cem anos ?