sábado, novembro 17, 2007

Gestão escolar colegiada: realidade ou utopia ?

Assim como tudo que envolve participação cidadã, no Brasil, ainda estamos engatinhando na gestão escolar colegiada. Por falta de conhecimento, ou de vontade, ou de hábito cultural, ou simplesmente de possibilidade. No caso de São Paulo, pais e mães trabalham fora e voltam tarde do trabalho em transportes precários, enfrentando congestionamentos. Às vezes somos muitos duros sobre a participação dos pais na Escola. Há muito, já foi a época em que a mamãe ficava em casa esperando os filhotes e o maridinho. E hoje, quem tem coragem de faltar ao emprego ou pedir para sair mais cedo? Qual empresa entenderia a importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos ? Talvez fosse o caso de se inventar uma "licença escolar" para esse caso. E aí homens e mulheres enfrentariam mais uma peneira no mercado de trabalho. Sim, porque sabemos que hoje as mulheres em idade fértil são discriminadas graças às conquistas históricas como a licença-maternidade, por exemplo... É preciso uma discussão social bem mais ampla que a restrita à área da educação para se definir o tipo de sociedade que queremos para o futuro. Porque a de hoje praticamente inviabiliza a vida familiar centralizada e participativa. E não estou falando apenas em termos escolares...

sábado, outubro 20, 2007

Uso do Vídeo em Sala de aula

USO DE VÍDEO EM SALA DE AULA

Título: High School Musical
Título Original: High School Musical
Direção: Kenny Ortega
Duração: 93 minutos
Ano de Produção: 2006

Sinopse:
Troy, astro do time da escola, e Gabriella, super-campeã em ciências, quebram todas as regras do East High Society quando resolvem fazer um teste para cantar no evento de música da escola. Em meio aos testes eles acabam vivendo um bonito romance durante os ensaios para o musical, e aprendem a importância do trabalho em equipe e de serem e acreditarem neles mesmos. Mostra também a necessidade de contornar dificuldades e se esforçar para quebrar barreiras aparentemente impossíveis.

Descritores:
Língua inglesa, música, dança, ciências, cooperação, trabalho em equipe, respeito, esportes.

Observações:
O filme é um sucesso entre crianças e adolescentes, o que facilita o trabalho em sala de aula.

ANÁLISES DO VÍDEO

ANÁLISE CONCENTRADA: em muitos momentos do filme, o que mais chama atenção são os diálogos porque eles são carregados de decisões frente a posturas de vida a serem adotadas. Em outros, são as imagens ora divertidas, ora emocionantes, ora alegres e agitas, com muita música e dança.

ANÁLISE FUNCIONAL: as cenas mais significativas são aquelas em que os personagens centrais fazem o teste para o musical da escola, e aquelas em que interagem em seu próprio grupo. Ele, no esporte, ela, na feira de ciências. Troy é astro do esporte da escola e o time tenta convencê-lo, de qualquer forma, que não pode participar de um musical. O mesmo acontece com Gabriella, que é expert em ciências e está escalada para defender a escola numa competição. Além disso, os dois enfrentam outra dupla, que sempre foi a titular absoluta nas apresentações da escola.

ANÁLISE DE LINGUAGEM: voltado ao público jovem, o filme tem linguagem de fácil compreensão e mostra como a confiança em si mesmo apesar das pressões do grupo em que se vive pode nos fazer descobrir talentos ocultos. Mostra que uma habilidade não exclui outra e é possível concilar atividades, com garra, vencendo preconceitos.

UTILIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR : HIGH SCHOOL MUSICAL

O vídeo pode ser usado num projeto com duração de um ano, nas diversas áreas do conhecimento.

Língua Portuguesa: motivação para redações e interpretações de texto, além da produção de um roteiro de teatro.

Língua Inglesa: utilização de diálogos simples e das músicas (cantar trechos, compreender os significados ) e montagem de uma apresentação de dança e música com o tema do filme.

Artes: produção de uma peça teatral (expressão corporal ), baseada no filme e escrita pelas próprias crianças, confecção de cenários, figurino e convites(expressão plástica ), montagem de uma apresentação de música e dança com a trilha sonora do filme ( expressão corporal e musical ).

Ciências: utilização das cenas protagonizadas por Gabriella para motivação para uma competição de ciências na própria escola, baseadas na que é mostrada no filme. Além disso, utilização dos temas de ciências que passam rapidamente no filme, nas aulas relacionadas a eles.

Matemática: elaboração de uma competição de matemática nos moldes da de ciências.

Sociabilização e auto-conhecimento: todos os temas citados anteriormentena análise podem ser temas para discussões em classe , onde as crianças e/ou adolescentes serão estimulados a pensar sobre o modo de vida atual e o que pode ser melhorado em si mesmo, no outro e nas relações, além da importância da garra para a conquista de objetivos.

Relações Interpessoais na Escola

A informação de que as realidades das escolas particulares e públicas são absolutamente diferentes, todo mundo conhece. São estruturas, metodologias, profissionais, crianças e comunidades que entre si têm apenas em comum a busca do saber. Mas as diferenças não param por aí. Passam, e muito, pelo modo de ver e entender a tarefa de educar. Os detalhes dessas diferenças ficam muito claros em situações básicas de pesquisa, como uma entrevista fictícia com professoras que trabalham em lugares diferentes. Maria Lúcia Rios, professora da primeira série da Escola Municipal Abelardo Siqueira, Cíntia Marques dos Santos, professora da primeira série do Colégio Rumo, Aparecida Mathias de Oliveira Bruno, professora de pré-escola da Escolinha Turma da Bagunça são bons exemplos disso. Duas delas, Cíntia e Aparecida, são iniciantes. Menos de 5 anos de profissão. Maria Lúcia é a veterana entre elas. Leciona há 22 anos e é a única que trabalha em apenas 1 período, ainda cursa pedagogia e não costuma usar a internet. As outras duas são recém-formadas. Todas garantem que lêem para manter-se informadas.
O desinteresse e indisciplina apontados por professores e alunos como um dos principais problemas da escola são avaliados por elas de forma diferente. Na escola pública, a aprovação automática e a falta de recursos didáticos. Na particular, a certeza de impunidade e até de reprovação, porque trazem de casa o discurso do “minha mãe paga a escola”. Educação deficiente em casa, em termos de formação e valores também são citados como motivos de falta de interesse ou disciplina em sala de aula.
Em outro ponto de reflexão sobre a escola, uma unanimidade: a atenção individual para alunos que apresentam dificuldades é extremamente prejudicada pelo número de alunos por sala. São 36 na primeira série escola pública, 32 na particular e 26 na pré-escola. Sem auxiliares. Esse excesso também é apontado como motivo para não se identificar alunos com talentos diferenciados. E quando são, o máximo que se consegue é falar com os pais rapidamente em alguma reunião. Isso, se o pai ou mãe comparecer à escola, um problema tanto para as escola pública quanto para a privada.
Nessa faixa etária, o vínculo entre professor e aluno normalmente é mais forte que nos anos seguintes, mas não se vê estratégias específicas para que isso aconteça, exceto por excursões e festinhas. Em sala de aula, a professora da pré-escola, Aparecida, diz que a “afetividade é a base do trabalho”, enquanto as outras dizem ser impossível ter o nível de afetividade suficiente para que isso realmente ajudasse na aprendizagem, com todos os alunos da sala.
Quanto ao vínculo com a escola, na escola particular, ele é trabalhado em atividades de ornamentação da escola e projetos diferenciados. Na escola pública, a professora Maria Lúcia garante que depende muito da própria professora. Mas como as classes mudam todo ano, às vezes um trabalho é perdido porque não há um projeto escolar e sim do próprio docente.
Em geral, são poucas as inovações pedagógicas e projetos de melhoria da prática pedagógica da escola, que resultem na elevação da auto-estima e na formação integral dos alunos. E os projetos já existentes foram concebidos e coordenados ou pela coordenação, ou pela professora e não pelos alunos, que foram, na verdade, conduzidos à realização de tarefas pensadas pelos adultos.
O que pude verificar também é que as professoras mais jovens estão mais abertas a novos projetos. A mais experiente tem também a intenção de desenvolver um bom trabalho, mas teme a indisciplina e acredita que os alunos não estão preparados para a tomada das principais decisões. Um pouco disso é visto no filme “Escola da Vida” em que um novo professor adota métodos revolucionários, que acabam sendo aceitos pelo professor mais antigo. O mais curioso é que o pai do professor veterano também lecionou na escola. Apesar da idade avançada, ele era amado pelos adolescentes e foi a inspiração para aquele professor que o substituiu depois da morte e revolucionou a escola. No filme, via-se nos 2 professores a intenção de realizar um bom trabalho. Até porque o professor veterano buscava o título de “professor do ano”, que o pai dele conquistou por anos a fio. Em uma cena, ele deixa a classe “livre” para escolher o que quer fazer. E resigna-se à vontade dos alunos de assitir às aulas “teatrais” do outro professor. Um detalhe importante é que o professor jovem conduzia os alunos e passava o conteúdo de forma teatral. O projeto não partia das crianças, mas elas eram encantadas pelo método baseado na fantasia. E esse “encanto” propiciava a aprendizagem efetiva, já que as notas dos alunos refletiam isso. E olha que, em dado momento do filme, há a desconfiança do professor veterano de que as notas eram o motivo da afetividade do outro com seus alunos. E ele, mais tarde, ao também quebrar seus paradigmas e, conseqüentemente, seus métodos, percebe que seus alunos também foram bem nos testes. Pelo amor ao saber.
É esse encantamento que falta às escolas brasileiras de hoje. Pela entrevistas percebe-se que há um desânimo geral. Na escola particular, para se cumprir à risca as ordens da coordenação. Na escola pública, pelo descaso com a aprendizagem. E isso independe da idade do educador. Depende da crença na educação e no próprio trabalho. Por isso acredito que é preciso que cada professor procure em si a chama da magia do saber e do ensinar. Essa é a chama que contagia alunos, comunidades e transforma as relações de aprendizagem. É assim que se criam vínculos afetivos que conduzem e guiam. É preciso, sim, afetividade. Com os alunos e com o próprio ato de educar. É preciso estar encantado para encantar e levar os alunos numa viagem diária e eterna pelo maravilhoso caminho da busca do conhecimento.

Organização e Gestão democrática na escola

Organização e gestão democrática são a base da busca de construção de uma escola de qualidade. Assim, são necessárias medidas que garantam a participação de todos da comunidade escolar. Somente assim, a comunidade aponta caminhos e trabalha, em conjunto com professores e alunos, para que a educação caminhe no sentido da eficiência e do encantamento. Sim, encantamento, porque acredito que atingir os objetivos da educação passa sim, é claro, por qualificação de professores e estrutura escolar. Mas isso tem que estar atrelado ao comprometimento de todos com o que se pretende atingir. Assim, é preciso valorizar a experiência da comunidade e suas necessidades, acolhendo anseios e sonhos. É preciso estimular professores, através da valorização profissional e da oferta de recursos para que possa desenvolver um bom trabalho. É preciso organizar a escola de modo que todos os alunos sejam realmente atendidos e deixem de ser um número numa imensa lista de chamada. E é preciso não esquecer, principalmente, que todas essas reflexões e atitudes só tem sentido porque existem em função de um educando, que tem também seus saberes, seus desejos, seus problemas e suas soluções. Assim, a escola estará voltada para conduzir o aluno por um caminho do saber que, muito antes e ao contrário de ser uma trilha árdua, precisa ser a base da evolução pessoal e da transformação social construída suavemente de forma a conquistar diariamente e a cada momento os educandos. Só assim, mais que conteúdos, é possível despertar em cada um o amor pelo saber, a curiosidade pelo conhecimento e o estímulo para a busca constante do aperfeiçoamento.

LDB: pontos positivos e negativos

Assim como muitas leis no Brasil, o que se vê na LDB, na verdade, são boas intenções que pecam pela falta da organização prática do que prega. Ou seja: tudo é muito bonito no papel, que aceita qualquer coisa, mas esquece-se que o Brasil tem dimensões continentais. E mesmo Estados ricos, principalmente São Paulo, tem contradições e realidades diversas.
Baseando-se no texto de Moacir Gadotti, sobre os pontos que referem-se à formação do professor, percebe-se que vários pontos que podem ser apontados como positivos acabam tendo problemas intrínsecos. Um dos exemplos é a necessidade de formação de Nível Superior para docência, preceito que cai por terra em regiões onde não há professores com essa formação e, para que seja possível manter o sistema educacional, admite-se aqueles “o mais aptos possível” para função. Isso cria ainda mais contrastes entre as grandes cidades e as regiões mais afastadas do país, uma vez que a formação dos cidadãos é totalmente desnivelada.
Entre os pontos positivos, pode-se destacar a possibilidade de reclassificação e desseriação, a obrigatoriedade de 4 horas mínimas diárias de trabalho em sala de aula, o regime de colaboração entre a União, Estados e Municípios, os processos nacionais de avaliação escolar, o conceito de Gestão Democrática e autonomia da escola, a incorporação da educação infantil ao sistema de ensino e a criação dos sistemas municipais de ensino.
Entre os destaques negativos, está a visão relativamente obsoleta da educação, a visão do conhecimento como algo a ser adquirido e não construído, a referência à
informática apenas no ensino à distância, e a pouca atenção à educação de jovens e adultos.
É necessário, portanto, que professores e os demais profissionais ligados à educação conheçam e reflitam sobre o que manda a lei, para que a prática possa utilizar o que nela há de melhor e resgatar o que falta através de projetos sérios que envolvam a sociedade como um todo. Somente através desse envolvimento será possível complementar a legislação, para que se chegue a uma educação de qualidade real no Brasil.

terça-feira, setembro 04, 2007

Leitura, muito prazer !

Que ler é fundamental, fascinante e envolvente, a maioria das pessoas concorda. Falo a maioria porque sabe-se que existe, sim, muito adulto por aí que odeia a leitura. E é aí que se questiona o que faz alguns amarem e outros detestarem uma atividade que deveria ser, para todos, instigante e automática. E é aí que se chega ao histórico que cada um desenvolveu com o ato de ler. Desenvolver o prazer da leitura nos alunos é, acima de tudo, desvincular total e completamente o ato de ler da obrigatoriedade escolar. Quem é que gosta daquilo que foi obrigado a fazer, a comer ou a beber ? Lembra daquele legume que desde cirança você não gosta nem de lembrar e sua mãe, na melhor das intenções, enfiava goela abaixo ? Você gosta mesmo de comer isso hoje? Ou suporta? Ou nem isso ? Lembra daquela visita dos pais aos parentes, nos domingos à tarde, onde as crianças sentavam-se, imóveis, nos sofás, a espera apenas do lanchinho que era, quase sempre bolo de chocolate e Coca-Cola, para agradar aos pequeninos ? Até hoje, odeio visitar alguém, sentar no sofá e esperar o bolinho... Sei quem tem gente que adora, mas eu detesto. E fico feliz porque a leitura para mim foi trabalhada de forma bem mais prazerosa que as visitas dominicais. Estudei em escola pública, tradicional, é claro, única opção em minha época. Não me lembro ao certo como foi, mas acredito que de alguma forma minha professora, a Dona Neob, me fez sentir que ler era muito mais que decifrar letras. É preciso levar a criança a descobrir que o mundo é bem mais interessante quando se entende tudo o que está por aí. Ler e viver se confundem. E a criança descobre sim, que a leitura a faz independente, promove sonhos e abre possibilidades. A criança precisa, acima de tudo, querer ler. Não porque ela precisa disso para estudar. Mas porque isso torna a vida dela mais fascinante. E isso refere-se ao dia-a-dia. Ler contos-de-fada, sem dúvida, é maravilhoso, mas olhar o letreiro do ônibus, o outdoor da esquina, as placas das lojas e saber o que elas dizem é, para mim, o início de um caminho que vai trilhar depois por livros, canções, jornais e poesias. Isso é viver a leitura. É transformá-la na melhor amiga. É fazer dela instrumento de estudos e sentimentos. O prazer da leitura precisa “invadir” o mundo das crianças de mansinho... Como um mar de ondas infinitas... Com cantinhos de leitura, jornais, revistas, livros... tudo isso que se encontra na escola. Mas também com a observação do mundo e da vida real. E se é preciso sugerir atividades, a base delas para mim seria pedir como tarefa que as crianças tragam, todos os dias, uma nova palavra que encontrar vagando pelo caminho... Aí sim, com a curiosidade diariamente aguçada, as “tradicionais” atividades construtivistas tornam-se efetivamente eficazes.

terça-feira, julho 31, 2007

Alfabetização

Na década de 90, fui professora da rede particular e da rede pública. Nas escolas particulares trabalhei com o método tradicional. Havia a apostila da escola, a ser seguida rigorosamente dentro do prazo estipulado pela direção. Na prefeitura, peguei a época em que a gestão de Luíza Erundina "obrigou" as escolas a adotarem o construtivismo. No geral, o que se fez foi louvável. Brinquedos de todos os tipos, bons lanches, incentivos financeiros a professores que lecionavam nas escolas distantes. Mas a própria adoção do construtivismo deveria ter sido "construtivista", permitindo que professores "construíssem" o próprio caminho, a partir do que já conheciam. Explico tudo isso porque a forma como a mudança foi imposta causou muitas dúvidas e prejudicou a forma como até hoje se "lê" o construtivismo. Naquela época, simplesmente abandonou-se tudo o que era feito e passou a um "fazer qualquer coisa" em nome da construção do saber. A verdade é que ninguém , ou quase, sabia trabalhar com isso. E, "na marra", muita gente aprendeu tudo errado. Não por preguiça, como muita gente fala, mas por puro desconhecimento. Mesmo assim, acredito que a experiência foi positiva. Principalmente porque pude observar que existia de fato alguma outra nova forma de aprender e "ensinar". Na verdade, minha melhor experiência foi no Estado. Lá, misturei minha prática da escola particular com o que fazíamos na pré-escola da prefeitura. Como novata, eu tinha, é claro, a classe com os alunos considerados os mais problemáticos da escola. Através do construtivismo, "resgatei" o interesse e a auto-estima dos alunos. Através do ensino tradicional, "ganhei" o respeito dos pais e da comunidade. Assim, usando o construtuvismo como motivação, e sistematizando o saber através do tradicional, vivi o que considero minha principal experiência com alfabetização. Foi aí que descobri o que acredito e que coloco hoje como bússola em minha escolinha particular. São as duas vertentes, aparentemente contrárias, que constroem a educação. Porque, para mim, a escola precisa preparar o indivíduo para a sociedade. E ela tem regras e exigências. Não vai achar lindo que meu aluno escreva errado, por mais profundo que seja o significado do que ele expressou, por ainda não ter "descoberto" a linguagem correta. E, por outro lado, não se pode acreditar que, como parte da sociedade da informação de hoje, esse mesmo aluno se interesse, aprenda e esteja preparado para a vida, apenas com repetições silábicas monótonas e sem signficado. O que não aceito é que se use a alfabetização politicamente, promovendo simplesmente o número de teoricamente alfabetizados, quando qualitativamente o que se tem criado é uma legião de semi-analfabetos, que ainda se comunicam. E a pergunta que fica é : se cada um continuar se comunicando com linguagem própria, em nome da descoberta do saber, e sem atenção à manutenção da língua-pátria, como será nossa comunicação daqui a cem anos ?

sábado, maio 19, 2007

Relação Escola x Comunidade

Bons educadores devem estar comprometidos com o fortalecimento da comunidade. E isso significa fazer da educação um pilar para que os cidadão do futuro tenham as ferramentas necessárias para isso. Esse processo só é possível através do diálogo, da participação e da democratização da escola. Assim deve ser, então, a relação entre a escola e a comunidade porque é desse fatores que resultam as atividades de aprender, ensinar, produzir e trabalhar. Todos passam a ter o compromisso de zelar pela qualidade e pelo alcance da educação, fazendo da escola, célula básica de uma comunidade que não exclui e não marginaliza, e sim cresce através das informações, reflexões e do acesso à formação como homem e cidadão. Isso inclui tanto o respeito da escola aos valores da comunidade quando o respeito da comunidade pela instituição escola. Respeito no sentido de acolher para fazer parte. De entender para participar. De valorizar para crescer junto.

Educação Especial

A educação especial é, sem dúvida, uma proposta de educação inclusiva, porque se as pessoas com necessidades especiais não tem acesso à escola, automaticamente acabam marginalizadas também socialmente. Como essas pessoas podem, por exemplo, ser inseridas no mercado de trabalho, sem ao menos a educação báscia. Ou, como se desenvolver mesmo como pessoa sem acesso às informações e oportunidades que todos têm. Mas vejo três grandes problemas na oferta de educação especial. O primeiro é que se propõe essa filosofia sem dar estrutura para escolas e sem preparar não apenas o professor, mas todos os funcionários na escola para trabalhar com essa nova realidade. Afinal, se não fosse necessária formação específica não haveriam tantos e tão caros cursos de especialização nessa área. E como cobrar que funcionários e professores arquem com o custo dessa formação, dados os baixos salários que imperam em nosso país. A outra crítica diz respeito á acessibilidade dos prédios, e da própria cidade. Não basta a escola querer receber os alunos com necessidades especiais. A cidade, o transporte e o próprio prédio escolar precisam estar preparados para recebê-los. Por último, também vejo a necessidade de auxiliares para os professores que trabalham com estes alunos. Ou, em nome da inclusão politicamente correta e eleitoreira, estaremos desrespeitando os outros alunos, auqe também não são culpados por não terem necessidades especiais. Ou seja: um professor não pode gastar 50% de sua atenção ao aluno com necessidades especiais e dividir os outros 50% entre no mínimo, 30 alunos. Ele precisa de um auxiliar ou estará, novamente em nome da inclusão, discriminando todos os outros alunos da sala, que também têm necessidades de aprendizagem.

sábado, abril 28, 2007

Mulher Educadora X Escola Inclusiva

Igualdade de oportunidades. Esse é o maior desafio da escola que se propõe inclusiva. Assim se garante que todo cidadão, menino ou menina, rico ou pobre, com ou sem necessidades especiais, tenha condições de lutar pela qualidade da própria vida e da comunidade que o cerca. No caso das mulheres educadoras, há ainda um desafio a mais a ser superado no cotidiano: a superação da própria criação. Sabe-se que ainda está impregnada na sociedade a visão machista das relações sociais. É por isso que ainda há homens que ganham mais que mulheres no desempenho de funções idênticas no mercado de trabalho. Outro exemplo: é por isso também as mulheres trabalhadoras chegam em casa e vão para a cozinha fazer o jantar, ou para o tanque lavar a roupa, enquanto os maridos, que trabalharam tanto quanto elas em seus empregos, vão para a sala, latinha de cerveja na mão, assistir ao futebol na televisão. É por tudo isso que as mulheres educadoras precisam se policiar no dia-a-dia para que a sua própria vida não contamine a possibilidade de criação de uma sociedade mais igualitária, a partir da formação de crianças que enxerguem homens e mulheres como seres igualmente capazes. Tanto a mulher, para o mercado de trabalho, quanto o homem, no desenvolvimento de suas emoções. Afinal de contas, quantas vezes se ouve por aí a expressão “meninos não choram” ? Não choram por quê? Não são humanos também ? Eles têm tanto direito de chorar quanto as meninas de estudar e trabalhar. E todos têm o dever de dividir as tarefas domésticas para acabar de vez com a dupla jornada de trabalho a que as mulheres se submetem desde a revolução feminista. Não se pode culpar exclusivamente as professoras por ainda dividirem atividades, indicando as potencialmente femininas e masculinas. Elas estão, afinal, reproduzindo a sociedade. Mas também não se pode mais aceitar tal alienação. É preciso se policiar, a cada dia, para superar os esteriótipos herdados da história das relações, impregnada pelo patriarcado, pelo machismo e pelo marianismo. Mais que isso, é preciso não se perder de vista a necessidade de uma prática pedagógica que permita ao aluno e à aluna se situarem como sujeitos sócio-histórico-culturais. Para isso, a escola precisa ser reorganizada e a gestão democrática de uma escola cidadão tem que promover a superação da valorização única da transmissão de conteúdos, através dos princípios da solidariedade, da flexibilidade, da interdisciplinaridade e da contextualização, como elementos de novos currículos. Somente assim nossos alunos, sejam eles meninos ou meninas, vão se preparar adequadamente para o novo milênio, com a formação sólida de identidades éticas, políticas e estéticas em cada um dos adultos do futuro.


quarta-feira, abril 25, 2007

Direitos da Infância x Proposta pedagógica

A qualidade do projeto de educação infantil e o compromisso de profissionais e da comunidade podem assegurar boa parte dos direitos de desenvolvimento da infância. Isso porque uma proposta pedagógica eficiente terá claros os fundamentos teóricos, filosóficos, éticos e políticos que melhor contribuam para uma qualidade na educação infantil, e vai respeitar a realidade cultural da criança e suas características como fase da evolução humana. Por outro lado, todas as boas intenções podem ser comprometidas, tanto na escola pública quanto na privada, pela inércia governamental. Ou seja, na escola pública, o excesso de alunos por sala e a falta de recursos didáticos, por exemplo, atingem diretamente a qualidade da educação, por mais esforçado que seja o professor e por melhor que seja a proposta pedagógica. A carência de recursos das famílias, que não dispõem de dinheiro para a compra de livros, jornais e revistas, para desenvolver programas culturais nos finais de semana, e muitas vezes, nem para a alimentação adequada dessas crianças, também compromete a formação da criança. A falta de tempo de pais e mães que se desdobram em jornadas duplas de trabalho para tentar garantir o sustento dos filhos, e acaba sem tempo para interagir adequadamente com eles, é ainda outro fator que agride os direitos das crianças. Nas escolas particulares, a lista de dificuldades também não é pequena. Um deles é o excesso de impostos igualitários para escolas de portes diferentes, que desvia o que poderia ser recurso para melhorias salariais e de recursos didáticos. Outro, o paternalismo sindical que leva proprietários a contratarem o menor número possível de funcionários, e impede donos de escola de avaliarem professores durante o semestre letivo, sob o ônus de arcarem com meses de salários de um funcionário irresponsável ou incompetente, porque a demissão só pode se dar em junho ou novembro. Mais um ? A proteção que permite que pais desonestos mantenham uma criança numa escola particular até o final do ano letivo, mesmo que paguem apenas a primeira mensalidade. Ora, se não podem pagar, por que colocam os filhos em escolas particulares ? Afinal, não é apenas o pai surpreendido com desemprego que deixa de pagar a escola impunemente. Que tal, então, um seguro-desemprego obrigatório, uma espécie de FGTS-EDUCAÇÃO, para garantir o estudo dos filhos em caso de desemprego? Porque o que se vê é um número crescente de pais que, de ano em ano, aplicam o golpe da inadimplência em uma escola diferente. E se a lei queria proteger a criança, está apenas assegurando, ao pai desonesto, o direito do não-cumprimento de suas obrigações financeiras, já que a criança, pulando de escola em escola, não tem, de forma alguma, a continuidade educativa pretendida. Isso leva ou ao encarecimento das mensalidades escolares, ou à falta de qualidade no serviço oferecido. Ou seja, por mais bem-intencionada que seja uma proposta pedagógica e por mais comprometidos que sejam os profissionais envolvidos, há problemas crônicos, sejam eles sociais, políticos, econômicos ou mercadológicos que precisam ser revistos com urgência. Só que eles não podem, é claro, servir de desculpa para não se tentar garantir os direitos de nossas crianças, afinal, elas são, como diria a célebre frase “ o futuro da nação".

sábado, abril 21, 2007

Televisão x Educação

Falar simplesmente que a televisão não educa é uma postura cômoda e antiquada. Não adianta espernear, que ela vai continuar nas casas, ligada em programas questionáveis, apesar de algumas opções de qualidade. Em primeiro lugar, é importante educar a criança desde cedo para saber escolher o que quer e o que precisa ver... Porque na vida deve haver lugar para a descontração e para a concentração. Para o estudo e para a diversão. Escolher o que ver na televisão é um retrato também do tipo de opção que a criança e o adolescente vai fazer durante a vida. A televisão é, sem dúvida, um recorte. Assim como os jornais e revistas também o são. Assim, embora saibamos que a sociedade deveria lutar pela qualidade televisiva e exigir uma televisão pública, gerida pela população, como há nos países mais desenvolvidos, a questão é: como educar para que as opções da vida também sejam opções conscientes ? Sobre o uso da tv em sala de aula, vejo vários pontos de reflexão como a necessidade das atividades terem objetivos específicos bem definidos para não se transformarem em passatempo. Assim, não pode ser uma improvisação e o professor tem de preparar muito bem as aulas em que irá explorar o texto televisual, da mesma forma que prepara (ou deve preparar) os textos impressos ou orais com que vai trabalhar. No livro Televisão e educação, Maria Thereza Fraga Rocco analisa bem a relação entre educação e televisão e dá sugestões para o bom aproveitamento do veículo como recurso educativo. Segundo ela, cabe ao professor escolher um segmento determinado, gravá-lo,levá-lo para a classe e explorá-la juntamente com os alunos, sendo que tal segmento não deve ultrapassar a 15 minutos de exibição. Mostrar um programa todo, longo, é como matar aula. Fracioná-lo com lógica e organizá-lo para posterior exploração é atividade de alto valor pedagógico e educacional. Um trecho de programa qualquer ou um comercial de TV podem ser desenvolvidos em sala de aula com vários professores, a um só tempo. De modo interativo e multidisciplinar, por exemplo, é possível também que seqüências de uma entrevista, de uma minissérie, de um documentário de bom nível e até mesmo de um programa detestável sejam analisados com os alunos pelos professores de português, artes, ciências, geografia. Assim, pela linguagem do vídeo, da TV, exploram-se, na escola, as outras múltiplas linguagens que constituem o homem hoje no seu grupo social e no seu cotidiano.

Ao Ministro da Educação

Há uma escola em meu bairro, a Escola Estadual Marcio Dêmora. Nessa Escola, há uma professora, Sandra Castro Távola. Um aluno, Guilherme Silva Campos Júnior. E a mãe, Marilise da Costa Campos. Três personagens de uma história triste e que espero, um dia, possa ter um final feliz. Em comum entre eles, mais do que o nome da escola. Sandra é professora de Guilherme, filho de Marilise. O menino, de 10 anos, está no quarto ano e a mãe dele sabe apenas assinar o nome. Ela não teve chance de ir ao que imaginou ser a escola. Ao ter um filho, sonhou, como todos os pais e mães, dar a ele o que não pôde ter. Para Marilise, o pequeno Guilherme, aos dez anos, saberia ler, fazer contas, falar da história do Brasil. O senhor, Ministro, certamente tem filhos. Bem-educados e formados nas melhores e mais caras escolas particulares do Brasil. Portanto, sei que vai ser difícil entender o que vou falar. O pequeno Guilherme, no quarto ano, não consegue ler quase nada além do próprio nome. Matemática ? Ele até consegue identificar números até cem, e fazer contas de somar. Desde que não apareça “essa coisa do vai um”. História? Bem, o senhor acha que o Brasil pode ter sido descoberto em 1900, por um tal de “alguma coisa Cobral”? O pequeno Guilherme tem certeza disso. É que, sem saber ler direito, senhor Ministro, os livros didáticos que a escola forneceu são verdadeiros hieróglifos para ele. Como estudar ciências ou história, se não se entende nem o texto de um gibi ? A mãe acreditava que a escola serviria para o filho ter “uma vida melhor”, mas ela está decepcionada. Era isso que ela tanto sonhava? Isso é a escola que dizem ser o meio para “subir na vida”? Como o filho vai conseguir um bom emprego, daqui a alguns anos, se mal vai conseguir ler os letreiros dos ônibus, para ir ao trabalho? A dona Marilise, senhor Ministro, não pode pagar a escola cara que o senhor pagou para os seus filhos. Então ela foi conversar com a professora. Ouviu que a culpa é da aprovação automática, do número excessivo de alunos na sala de aula, do desinteresse dos alunos, provocada pela falta dos recursos atrativos que a escola deveria dispor para uma boa educação. A dona Marilise até sentiu pena da professora. A Sandra explicou para ela que decidiu ser professora porque acreditava que a educação era a base para a construção de um mundo melhor, mais justo e mais feliz. Que tinha o sonho de ver, na escola pública, a qualidade das boas escolas particulares. Que queria ver seus alunos preparados para a sociedade, para o mercado de trabalho e para a vida. Acontece, senhor Ministro, que, na prática, nada disso pode ser realidade. O senhor assistiu ao filme “Cidade de Deus ? Tem idéia de quantas “Cidades de Deus”, com seus “Zé Pequenos“ existem por aí? Exemplos como o do personagem Dadinho, que até se sentiu tentado mas não se envolveu com o crime, apesar do irmão assaltante, são raros. A professora Sandra me contou que já conviveu com alunos, parentes ou vizinhos de bandidos, que iam para a escola comer e passavam a tarde “trabalhando” para o tráfico de drogas, em pequenos roubos, ou “honestamente” nos faróis e nas feiras, empurrando os carrinhos que as senhoras não agüentavam levar para casa. Como ela sabia ? As crianças pequenas, criminosas ou não, costumam confiar em professoras como a Sandra. O senhor deve estar se perguntando : por que ela não denunciou? Eu explico: a professora Sandra mora perto da escola, que também fica próxima à favela onde essas crianças vivem... A professora Sandra tem dois filhos pequenos e pais idosos que também moram por lá. Isso sem falar em irmãos e sobrinhos. A professora Sandra ganha pouco e não tem dinheiro para pagar os seguranças particulares e vigias noturnos que o senhor paga, senhor Ministro. E a polícia ? Que polícia ? Enfim, entre o compromisso com a educação e a vida da família, ela optou por ficar quietinha. Fingir que nem sabia de nada. O senhor agiria diferente ?
Bom, desculpe tomar o seu tempo com toda essa história. É que sou estudante de pedagogia e ainda sonho. Quero ter a esperança de construir um Brasil melhor, deixando de ver crianças que enxergam na marginalidade o único meio de vida. Ainda acredito que a escola brasileira pode, sim, servir para a construção de uma sociedade mais justa, com oportunidades iguais e sentimentos nobres entre os homens. E isso, o senhor sabe, só é possível com uma educação de qualidade... Aquela que os seus filhos tiveram, protegidos pelos seus seguranças, bem-alimentados pela sua cozinheira, descansados pelas férias na Disney. Eu não sou Ministra da Educação como o senhor, mas sei que só vou realizar meu sonho se lutar pelos direitos da infância. Segurança, alimentação, lazer e ensino eficiente não podem ser privilégios de quem tem sorte de nascer em uma família rica. E tudo isso ainda precisa ser costurado com a linha dos valores morais e sociais que vão garantir, um dia, quem sabe, na minha aposentadoria, o meu sorriso: o mesmo de quem planta uma semente e colhe uma maçã, consciente de aquilo é apenas o começo de um lindo pomar. Sou mais nova que o senhor e, se o curso da vida seguir normalmente, devo ficar aqui por mais tempo. Mesmo assim o convido: o senhor não quer sorrir comigo ?

Gestão Escolar e inclusão de pessoas especiais

O gestor escolar atualizado entende a inclusão das pessoas com necessidades especiais como uma meta possível, apesar de todas as dificuldades para viabilizar as ações que realmente sejam inclusivas e não apenas politicamente corretas.
Mas a retórica de que a participação de pessoas especiais nas chamadas “escolas comuns” é difícil e absurda- porque o poder público não oferece condições -deve ser superada, mas não esquecida. Porque a cobrança dessas ações também faz parte da luta pelo atendimento educacional a que todos tem direito.
O governo deveria treinar não apenas os professores e sim todos os funcionários e a comunidade escolar. Se esse treinamento específico não fosse necessário, não haveria tantos e tão caros cursos de especialização na área de educação para pessoas com deficiência. No caso da deficência visual, por exemplo, como trabalhar com essas crianças, sem saber o braile ? E como exigir de toda a comunidade escolar que sejam feitos cursos nessas áreas, com os baixos salários pagos aos profissionais de educação ? Esses cursos deveriam ser oferecidos gratuitamente pelo governo.
Apesar de tudo isso, esses problemas não podem servir como desculpa, para que gestores camuflem o preconceito e a acomodação que também é encontrada em várias esferas da educação.
Ou seja, não se pode fugir da responsabilidade de garantir o atendimento cada vez mais amplo e com mais qualidade. Cabe ao gestor sensibilizar, incentivar e mobilizar a comunidade escolar e buscar parcerias com organismos que possam destinar recursos para projetos de inclusão, parceiras com órgãos e escolas que já possuem conhecimentos na área da educação especial e, acima de tudo, garantir que a parceria com a família seja garantida.
Assim, com uma gestão sensível, consciente, corajosa e aglutinadora, torna-se possível lutar contra as dificuldades para tornar mais justo e humano o acesso de qualquer criança à educação. A deficiência, afinal, é um desafio a mais para o educador competente.

Necessidades básicas de aprendizagem e educação para a vida

Até que ponto a educação tem o direito de estar estritamente relacionada ao preparo do indivíduo para as necessidades empresariais e de crescimento econômico de um país? E a formação do ser-humano, por exemplo? Essas são algumas das críticas que se faz na super-valorização das necessidades básicas de aprendizagem, definidas na Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jontien, na Tailândia, em março de 1990.
O evento teve como patrocinador, entre outros, o Banco Mundial, que estimula os países a concentrarem recursos públicos na educação básica, vista como responsável pelos maiores benefícios sociais e econômicos, e considerada elemento essencial para um desenvolvimento sustentável e de longo prazo, assim como para aliviar a pobreza.
O lado positivo das diretrizes do Banco Mundial é a visão ampliada de educação. Ou seja, uma educação voltada para crianças jovens e adultos, realizada dentro e fora do equipamento escolar, medida pelo que é efetivamente aprendido durante toda a vida.
Por outro lado, as estratégias são baseadas na análise puramente econômica e buscam atender a uma demanda exclusiva do mercado, comparando uma escola a uma empresa. Assim, as propostas do Banco Mundial estão focadas na quantidade e não na qualidade, desconsiderando os avanços da ciência, da pesquisa educativa e nas concepções modernas de aprendizagem.
Assim, torna-se necessária uma profunda reflexão dos profissionais das instituições de ensino para que a implantação dessa política não nivele por baixo e esconda uma educação ineficiente e insatisfatória, que, infelizmente é o que estamos vendo nas escolas brasileiras. Progressão continuada e Ensino Fundamental de 9 anos, por exemplo, são claramente medidas políticas, que visam a massificação da permanência escolar, mas que não garantem, certamente, a qualidade na educação que nossas crianças merecem e nossa sociedade precisa.

Sociedade da Informação e tecnologia

Atualmente, o conhecimento é um fator diferencial de superação de desigualdades e de agregação de valores. A riqueza dos países é definida por quanto seus governos investem em conhecimentos, como forma de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Daí, a aderência à chamada “Sociedade da Informação”, que impulsiona as transformações na organização da sociedade contemporânea. No Brasil, torna-se necessário um conjunto de inovações na infra-estrutura organizacional, na base tecnológica e no sistema educacional, e ela vem sendo construída em meio a projetos de desenvolvimento social, como a ampliação do acesso, a formação de recursos humanos e o incentivo à pesquisa, entre outros.
A tecnologia vem se desenvolvendo com a sociedade e torna-se cada vez mais aprimorada, facilitando e transformando a vida das pessoas. Essa transformações são provocadas principalmente pela introdução de tecnologias que mudam a forma de como lidar com o conhecimento. Daí a importância da chamada “inclusão digital”. A educação, portanto, precisa acompanhar a evolução tecnológica, servindo-se dela e transformando as pessoas em seres capazes de lidar com as novas tecnologias, incorporando-as à vida de modo a construir uma existência mais digna e mais feliz.
Assim, a educação passa por um processo de renovação de espaços, de redefinição de conteúdos e de valores, e até mesmo de organização e metodologias. Uma das grandes provas disso é a educação à distância, que prova a cada dia sua eficácia e vem quebrando os tabus que a definiam como uma educação de segunda linha. Ao contrário, a educação à distância mostra a clara junção entre a educação e a tecnologia e como elas podem definitivamente formar o profissional e o cidadão do futuro.

Funções da pré-escola

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, inclusive da classe média, houve necessidade de ampliação do atendimento da pré-escola. Com isso, a pré-escola passou a ter uma proposta educativa voltada ao desenvolvimento dos aspectos cognitivos, emocionais e sociais da criança. Além disso, a psicologia e a pedagogia modernas ressaltam a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento do ser humano, e a necessidade de se trabalhar a criatividade e a sociabilidade. A partir dessas informações, conclui-se que as funções da pré-escola são muitas: o “cuidar” da criança, sem cair no assistencialismo, o desenvolvimento intelectual, o preparo para a albetização e da escolarização, de uma forma geral, e principalmente, o preparo para a vida, através do desenvolvimento emocional e a socialização. Ou seja, é nessa fase que se inicia o trabalho da construção da cidadania, fundamental para a criação de uma sociedade melhor. Por tudo isso, é preciso buscar a cada dia o aperfeiçoamento da prática educativa, garantindo a qualidade da educação e a eterna construção de um projeto educacional capaz de contribuir significativamente na qualidade de vida das nossas crianças.

Maioridade Penal

A maioridade penal aos dezoito anos provoca uma verdadeira fábrica de adolescentes e crianças criminosas. Dois pontos precisam ser analisados. Um deles, o menos importante, é a capacidade ou não de adolescentes antes dos dezoito anos terem plena consciência da gravidade dos delitos cometidos. Ora, se alguém provar que adolescentes e crianças não são capazes de distinguir entre o certo e o errado, o bem e o mal, provocará certamente uma revolução em todas as teorias de desenvolvimento psicológicas existentes. Então, de que serviriam os esforços dos pais e educadores durante toda a infância se somente depois dos dezoitos anos a "criança" fosse capaz de tais discernimentos. O problema é que, de fato, as crianças e adolescentes, assim como também muitos adultos, são influenciáveis. Com as péssimas condições que que vivem as pessoas em nossa sociedade, com verdadeiras multidões sem alimentação, sem moradia, sem saúde e sem educação - ou seja, sem os direitos humanos fundamentais - as pessoas tornam-se alvos fáceis da indústria do crime. Assim, crianças e adolescentes, ininputáveis, passam a ser massa de manobra dos criminosos, que os usam como marionetes. Agora, o que se precisa discutir é a necessidade de toda uma reestruturação no sistema carcerário em geral. Isso porque, caso crianças e adolescentes se tornassem responsáveis por seus atos, como garantir que seriam asseguradas a elas as condições de reabilitação e ainda a continuação do desenvolvimento e da formação necessária a essa faixa etária? Outro ponto que deixo para reflexão: os pais dessas crianças e adolescentes não deveriam ser responsabilizados em parte pelos crimes dos filhos ? Será que assim os pais também não passariam a "colaborar" mais na educação dos próprios filhos ?