quinta-feira, setembro 17, 2009

Reflexões sobre o Ensino Fundamental e Médio no Brasil

Ensino Fundamental obrigatório e gratuito assegurado e Ensino Médio necessário e oferecido desde que o fundamental esteja totalmente atendido. Essas são as garantias quanto à extensão de atendimento desses níveis de educação, estabelecidos na LDB 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases que formatou o que a Constituição de 1988 estabeleceu para o ensino nacional. Um atendimento que precisa crescer cada vez mais, e redefinir o acesso ao Ensino Médio não mais como necessário, mas como obrigatório, uma vez que se sabe que, para sobreviver na sociedade competitiva atual, o Ensino Fundamental é muito pouco. A educação brasileira, na verdade, ainda está carente, e muito, de acesso, permanência e qualidade em todos os níveis de ensino praticados no país.
Tão importante quanto a garantia legal da oferta é a qualidade e os objetivos do processo educacional no país. Mas, aprender para quê? O artigo 32 estabelece como finalidade a aquisição de conhecimentos e habilidades, garantindo a formação de atitudes e valores no indivíduo. Ou seja, o Ensino Fundamental, hoje com a duração mínima de nove anos, tem como objetivo geral a formação básica do cidadão. O mesmo artigo prevê o domínio pleno da leitura, escrita e cálculo, a compreensão do ambiente natural, social e político, o conhecimento da tecnologia, das artes e dos valores fundamentais à sociedade. E ainda prevê que todo esse processo dependerá do fortalecimento dos laços familiares, da solidariedade e da tolerância entre os homens. Ou seja, ao contrário do que se vê atualmente, com as críticas voltadas fundamentalmente à escola e aos professores, a legislação prevê a parceria entre a instituição de ensino, a família a sociedade, distribuindo responsabilidades.o fracasso escolar, a forma como se deu a “leitura” e implantação em diversas partes do país gerou uma prática de aprovação automática, que gerou a baixa
É claro que muitos pontos da legislação, nobres em seu conceito, carecem de aplicação prática de qualidade. Um dos artigos mais questionados atualmente é a possibilidade da chamada “progressão continuada”. Apesar da intenção ser a busca da permanência do aluno para superar qualidade de ensino, em nome da popularização do acesso à educação. Ou seja, é positiva a concepção da LDB de que o Ensino, em especial o Fundamental, deve ser um processo contínuo, mas ainda é preciso uma reorganização total do sistema e do aspecto metodológico, para que as boas intenções da Lei se traduzam em qualidade educacional.
Outra questão polêmica, em especial nos últimos anos, é o ingresso da criança de 6 anos no Ensino Fundamental. Embora as escolas estejam, aos poucos, adequando-se às mudanças, o que se observa até agora é que simplesmente boa vontade de professores e coordenadores não basta. As escolas de Ensino Fundamentais não estão preparadas nem equipadas para receber esses alunos. E isso passa tanto pela estrutura física, como adaptação de banheiros e escadas ou pintura nova que atraia os pequenos, quanto pela compra de materiais pedagógicos, livros e brinquedos e pelo preparo de todos os funcionários da escola, e não apenas os professores. E apesar do próprio MEC alertar para a necessidade do primeiro ano não se "limitar" à alfabetização, na prática, por mais criatividade que se tenha, faltam os recursos físicos citados anteriormente. Além disso, é urgente a adoção de outras medidas como a reformulação da proposta e do projeto pedagógico e até a formação continuada de todos os envolvidos no ambiente escolar.
Já no Ensino médio, uma das principais preocupações é ser “direito público subjetivo”, já que a Lei 9394/96 prevê sua gratuidade e obrigatoriedade com extensão progressiva, o que o torna muito menos “universal” que o Ensino Fundamental. Quanto às finalidades, a legislação estabelece a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, a preparação básica para o trabalho e a cidadania, o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico, e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos relacionando teoria e prática no ensino de cada disciplina. A crítica que se faz a essas finalidades é o embasamento em conceitos imprecisos e polêmicos, que geram avaliações subjetivas e tornam o ensino elitizado e individualistas. Eu acrescentaria, ainda, a necessidade, sim, de um caráter mais técnico, formando o adolescente também para o mercado de trabalho. Principalmente porque, com a baixa qualidade do ensino público atual, o ingresso na Universidade pública é extremamente difícil para o aluno que não estudou nas escolas particulares. Assim, os jovens oriundos das camadas populares terminam o ensino médio com perspectivas muito limitadas, uma que vivem a contradição entre a necessidade de trabalhar para pagar um universidade particular e a dificuldade de entrar no mercado de trabalho já que não possuem especialização em coisa alguma. Uma sugestão seria a inclusão de um ano profissionalizante para aqueles que não conseguirem ingressar na Universidade pública ao final dos três anos do Ensino Médio. Assim, a formação geral não seria prejudicada e o Estado garantiria a possibilidade de profissionalização, inclusive para aqueles que precisam do trabalho para prosseguir os estudos.
Para isso seria necessário, inclusive, novas rumos para a formação continuada dos professores, que precisariam ser preparados para ministrar, também, disciplinas profissionalizantes específicas. Assim, a formação continuada que tanto se prega para os professores das séries iniciais, em especial o novo primeiro ano para crianças de seis anos, seria também fundamental para os professores do Ensino Médio. Uma das grandes dificuldades nesse processo é que os professores, além de vontade, incentivo e motivação, tenham tempo para o próprio aperfeiçoamento profissional. Trabalhando em duas ou até três escolas para garantir o sustento da família, é muito difícil conseguir que o professor abra mão de parte da renda para estudar. Ou seja, a formação continuada passa por muito mais obstáculos que a oferta e o interesse. Passa pela valorização profissional, através de salários que permitam ao professor o tempo necessário para que se dedique à pesquisa e à própria formação.
Portanto, a visão educacional atual no país traz inúmeros avanços em relação a leis anteriores. E um dos principais é a concepção ampla do processo, visando a formação de indivíduos conscientes de sua inserção no meio social, através da participação crítica e cidadã. Mas muitas medidas práticas são necessárias para sua aplicação na sociedade. Não bastam boas intenções. Não basta jogar a culpa nos professores, nos alunos, na família ou na escola. Não basta jogar a culpa no governo. Todos têm sua parcela de culpa. E somente quando cada um cumprir o seu papel no processo de forma séria será possível de fato avançar na universalização e na qualidade da educação do país, como sonha a legislação que hoje a regulamenta.

sábado, maio 02, 2009

O "gordo" Ronaldo no Corinthians

Para quem duvidou, criticou, ironizou, mas principalmente, para quem acreditou, Ronaldo tem respondido em campo. Mais que isso, em menos de dois meses, ele já correspondeu, com louvor, à recepção cinematográfica preparada pelo Corinthians e interpretada pelos corintianos, no final do ano passado... Foi um bando de mais de 10 mil loucos pelo time... agora, também por Ronaldo.
Amor à primeira vista que virou mesmo um caso sério... inabalável até mesmo diante das duas noitadas.. uma delas, a causa da demissão de Antonio Carlos, o então diretor técnico do clube.
E olha que o momento da polêmica não poderia ser pior... Às vésperas da estréia... Depois de meses de regime e recuperação física ... Depois de mais de um ano longe de jogos oficiais... Depois de tanta desconfiança no recomeço...
Detalhes, que a festa de Itumbiara apagou, apesar da atuação discreta, em pouco mais de vinte minutos em campo... Detalhes, que o primeiro gol dele no corinthians eliminou da memória do torcedor... Poderia ser melhor ? Afinal, contra o arqui-rival palmeiras tem sabor especial...
Com o tempo, com os gols, com a alegria, e em pleno clássico contra o São paulo, a fama de gordo definitivamente virou apelido carinhoso... Palavras de Mano Menezes... "Que velocidade, hein, gordo ? "
E como se não bastassem o gol diante do São Paulo e aquele, diante do Palmeiras, ele marcou também contra o Santos... Gols nos três grandes clássicos paulistas...
Isso tudo é ronaldo... Festa, polêmica, esforço, talento, show... Muitas vezes, com toques de uma genialidade invejada e festejada... Sonhada por muitos, realidade de poucos.

Ee se a velocidade ainda falta, se a gordurinha ainda teima em ficar, se ele ainda toca pouco embora decisivamente na bola, a maior das verdades é que a história do "gordo" Ronaldo no Corinthians se transformou mesmo foi numa dentada forte na língua dos críticos .

quarta-feira, abril 22, 2009

Meu bairro...

Uma ladeira... É assim a rua em que moro... O fim dela leva a uma área, conservada pelos moradores, que é o único local em que se encontra diversas árvores próximas umas das outras... É lá que os moradores do bairro, Vila Nova Cachoeirinha, ainda lembram um pouco da beleza da natureza e da simplicidade da vida no campo.
O próprio nome do bairro nos instiga a procurar: onde é essa "cachoeirinha" da "Vila Nova". Perguntei aos habitantes mais antigos, que me apontaram a região onde, de fato, no passado, havia uma pequena cachoeira... Uma maternidade... ali nascem novos seres onde antes a natureza dava show através das águas... Tempo remoto... Hoje, o comércio cerca as casas e é difícil não encontrar algum produto que a sociedade de consumo prega essenciais, nas próprias ruas do bairro. Lojas de móveis, de roupas, farmácias, perfumarias, sapatarias, mercadinho, hospitale muitos bancos. A principal rua de comércio no bairro depois do fim da ladeira... Algumas ruas mais para baixo, numa espécie de baixada nivelada, que permitiu esse verdadeiro"shopping" a céu aberto. Perto das casas, pingam comércios menores e que atendem a quem não quer ou não pode subir de volta a ladeira, depois da compras... Nessa região predominam as casas com quê interiorano. Sem prédios e, na maior parte, sem capricho e sem vaidade.
Chamar-se Vila Nova Cachoeirinha é, por si só, o maior contraste do próprio bairro... Porque a única cachoeira por aqui é de lojas e ambulantes que lotam as ruas de barulho, na disputa por clientes...

sábado, abril 05, 2008

Geografia x Alfabetização

A utilização da geografia como instrumento na alfabetização precisa ser muito mais do que observar o bairro ou os arredores da escola. Mesmo na fase da alfabetização, não seria maravilhoso que as crianças do campo visitassem as cidades e vice-versa... Ou o litoral ? Eu sei que não é nenhuma idéia genial. É básico, eu sei. Mas acho que é preciso falar das coisas básicas, principalmente porque elas não acontecem no nosso país. Ou melhor, acontecem. Nas escolas particulares, a preços absuros, e nas públicas, de uma maneira bem restrita, a quem pode pagar, no máximo, uma visita ao zoológico. Estudei em escola pública, municipal, e o conteúdo mais inesquecível para mim, por incrível que pareça, vem justamente de uma aula de geografia da então oitava série. Fomos a Campos do Jordão estudar a vegetação e o clima tropical de altitude. Até hoje sei falar disso e adoro as araucárias. Imagine só utilizar experiências como essa na alfabetização. Saber escrever o que se viu na praia, no campo, na cidade, para quem não faz parte desse mundo. E isso é só um simples exemplo.

quinta-feira, março 06, 2008

Letrar x Alfabetizar

A alfabetização é, hoje, um dos temas mais em pauta nos ambientes educacionais. Por isso, está cada vez mais raro encontrar professores que desconheçam a importância de letrar e não apenas alfabetizar nossas crianças. Ou seja, o conceito de Ana Teberosky, que conceitua como linguagem escrita propriamente dita os tipos de discurso vinculados às funções que a escrita tem assumido em diferentes culturas e sociedades, está cada vez mais presente nas escolas.
Em entrevistas com 3 professoras-alfabetizadoras, sendo 2 da rede pública e 1 da privada, nota-se a consciência de que deve-se motivar a partir da significação da linguagem para se chegar ao verdadeiro objetivo da alfabetização. Ou seja: compreendendo a função da escrita, a criança sente-se mais motivada e, ao mesmo tempo em que é alfabetizaa, acaba assimilando a significação das palavras e frases em seu contexto, e não apenas a letra pela letra. Ou vice- versa.
Se para o escritor Duran Alves, no ano 2000, a cartilha era ainda, na maioria das vezes, o único modelo de escrita a que a criança tinha acesso na escola, o que se vê hoje, oito anos depois, é a diversificação muito maior da oferta de textos e fontes para os alunos, dada a conscientização e os novos conhecimentos dos professores. É verdade que não temos em mãos uma pesquisa realmente científica para quantificar com exatidão esse processo. Mas, se 3 professoras entrevistadas podem servir como base de análise, tudo nos leva a crer que o início do caminho está trilhado.
Resta saber se o fato das professoras conhecerem os objetivos da verdadeira alfabetização representa a concretização dessas metas. Aí, esbarra-se em todos os outros problemas educacionais brasileiros, que vão da falta de estrutura aos problemas familiares, da esfera governamental à comunidade, da qualidade ao comprometimento dos profissionais da educação. Mas o conhecimento da diferença entre letrar e alfabetizar é o engatinhar de um processo. E isso aparentemente já está acontecendo.

sábado, novembro 17, 2007

Gestão escolar colegiada: realidade ou utopia ?

Assim como tudo que envolve participação cidadã, no Brasil, ainda estamos engatinhando na gestão escolar colegiada. Por falta de conhecimento, ou de vontade, ou de hábito cultural, ou simplesmente de possibilidade. No caso de São Paulo, pais e mães trabalham fora e voltam tarde do trabalho em transportes precários, enfrentando congestionamentos. Às vezes somos muitos duros sobre a participação dos pais na Escola. Há muito, já foi a época em que a mamãe ficava em casa esperando os filhotes e o maridinho. E hoje, quem tem coragem de faltar ao emprego ou pedir para sair mais cedo? Qual empresa entenderia a importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos ? Talvez fosse o caso de se inventar uma "licença escolar" para esse caso. E aí homens e mulheres enfrentariam mais uma peneira no mercado de trabalho. Sim, porque sabemos que hoje as mulheres em idade fértil são discriminadas graças às conquistas históricas como a licença-maternidade, por exemplo... É preciso uma discussão social bem mais ampla que a restrita à área da educação para se definir o tipo de sociedade que queremos para o futuro. Porque a de hoje praticamente inviabiliza a vida familiar centralizada e participativa. E não estou falando apenas em termos escolares...

sábado, outubro 20, 2007

Uso do Vídeo em Sala de aula

USO DE VÍDEO EM SALA DE AULA

Título: High School Musical
Título Original: High School Musical
Direção: Kenny Ortega
Duração: 93 minutos
Ano de Produção: 2006

Sinopse:
Troy, astro do time da escola, e Gabriella, super-campeã em ciências, quebram todas as regras do East High Society quando resolvem fazer um teste para cantar no evento de música da escola. Em meio aos testes eles acabam vivendo um bonito romance durante os ensaios para o musical, e aprendem a importância do trabalho em equipe e de serem e acreditarem neles mesmos. Mostra também a necessidade de contornar dificuldades e se esforçar para quebrar barreiras aparentemente impossíveis.

Descritores:
Língua inglesa, música, dança, ciências, cooperação, trabalho em equipe, respeito, esportes.

Observações:
O filme é um sucesso entre crianças e adolescentes, o que facilita o trabalho em sala de aula.

ANÁLISES DO VÍDEO

ANÁLISE CONCENTRADA: em muitos momentos do filme, o que mais chama atenção são os diálogos porque eles são carregados de decisões frente a posturas de vida a serem adotadas. Em outros, são as imagens ora divertidas, ora emocionantes, ora alegres e agitas, com muita música e dança.

ANÁLISE FUNCIONAL: as cenas mais significativas são aquelas em que os personagens centrais fazem o teste para o musical da escola, e aquelas em que interagem em seu próprio grupo. Ele, no esporte, ela, na feira de ciências. Troy é astro do esporte da escola e o time tenta convencê-lo, de qualquer forma, que não pode participar de um musical. O mesmo acontece com Gabriella, que é expert em ciências e está escalada para defender a escola numa competição. Além disso, os dois enfrentam outra dupla, que sempre foi a titular absoluta nas apresentações da escola.

ANÁLISE DE LINGUAGEM: voltado ao público jovem, o filme tem linguagem de fácil compreensão e mostra como a confiança em si mesmo apesar das pressões do grupo em que se vive pode nos fazer descobrir talentos ocultos. Mostra que uma habilidade não exclui outra e é possível concilar atividades, com garra, vencendo preconceitos.

UTILIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR : HIGH SCHOOL MUSICAL

O vídeo pode ser usado num projeto com duração de um ano, nas diversas áreas do conhecimento.

Língua Portuguesa: motivação para redações e interpretações de texto, além da produção de um roteiro de teatro.

Língua Inglesa: utilização de diálogos simples e das músicas (cantar trechos, compreender os significados ) e montagem de uma apresentação de dança e música com o tema do filme.

Artes: produção de uma peça teatral (expressão corporal ), baseada no filme e escrita pelas próprias crianças, confecção de cenários, figurino e convites(expressão plástica ), montagem de uma apresentação de música e dança com a trilha sonora do filme ( expressão corporal e musical ).

Ciências: utilização das cenas protagonizadas por Gabriella para motivação para uma competição de ciências na própria escola, baseadas na que é mostrada no filme. Além disso, utilização dos temas de ciências que passam rapidamente no filme, nas aulas relacionadas a eles.

Matemática: elaboração de uma competição de matemática nos moldes da de ciências.

Sociabilização e auto-conhecimento: todos os temas citados anteriormentena análise podem ser temas para discussões em classe , onde as crianças e/ou adolescentes serão estimulados a pensar sobre o modo de vida atual e o que pode ser melhorado em si mesmo, no outro e nas relações, além da importância da garra para a conquista de objetivos.

Relações Interpessoais na Escola

A informação de que as realidades das escolas particulares e públicas são absolutamente diferentes, todo mundo conhece. São estruturas, metodologias, profissionais, crianças e comunidades que entre si têm apenas em comum a busca do saber. Mas as diferenças não param por aí. Passam, e muito, pelo modo de ver e entender a tarefa de educar. Os detalhes dessas diferenças ficam muito claros em situações básicas de pesquisa, como uma entrevista fictícia com professoras que trabalham em lugares diferentes. Maria Lúcia Rios, professora da primeira série da Escola Municipal Abelardo Siqueira, Cíntia Marques dos Santos, professora da primeira série do Colégio Rumo, Aparecida Mathias de Oliveira Bruno, professora de pré-escola da Escolinha Turma da Bagunça são bons exemplos disso. Duas delas, Cíntia e Aparecida, são iniciantes. Menos de 5 anos de profissão. Maria Lúcia é a veterana entre elas. Leciona há 22 anos e é a única que trabalha em apenas 1 período, ainda cursa pedagogia e não costuma usar a internet. As outras duas são recém-formadas. Todas garantem que lêem para manter-se informadas.
O desinteresse e indisciplina apontados por professores e alunos como um dos principais problemas da escola são avaliados por elas de forma diferente. Na escola pública, a aprovação automática e a falta de recursos didáticos. Na particular, a certeza de impunidade e até de reprovação, porque trazem de casa o discurso do “minha mãe paga a escola”. Educação deficiente em casa, em termos de formação e valores também são citados como motivos de falta de interesse ou disciplina em sala de aula.
Em outro ponto de reflexão sobre a escola, uma unanimidade: a atenção individual para alunos que apresentam dificuldades é extremamente prejudicada pelo número de alunos por sala. São 36 na primeira série escola pública, 32 na particular e 26 na pré-escola. Sem auxiliares. Esse excesso também é apontado como motivo para não se identificar alunos com talentos diferenciados. E quando são, o máximo que se consegue é falar com os pais rapidamente em alguma reunião. Isso, se o pai ou mãe comparecer à escola, um problema tanto para as escola pública quanto para a privada.
Nessa faixa etária, o vínculo entre professor e aluno normalmente é mais forte que nos anos seguintes, mas não se vê estratégias específicas para que isso aconteça, exceto por excursões e festinhas. Em sala de aula, a professora da pré-escola, Aparecida, diz que a “afetividade é a base do trabalho”, enquanto as outras dizem ser impossível ter o nível de afetividade suficiente para que isso realmente ajudasse na aprendizagem, com todos os alunos da sala.
Quanto ao vínculo com a escola, na escola particular, ele é trabalhado em atividades de ornamentação da escola e projetos diferenciados. Na escola pública, a professora Maria Lúcia garante que depende muito da própria professora. Mas como as classes mudam todo ano, às vezes um trabalho é perdido porque não há um projeto escolar e sim do próprio docente.
Em geral, são poucas as inovações pedagógicas e projetos de melhoria da prática pedagógica da escola, que resultem na elevação da auto-estima e na formação integral dos alunos. E os projetos já existentes foram concebidos e coordenados ou pela coordenação, ou pela professora e não pelos alunos, que foram, na verdade, conduzidos à realização de tarefas pensadas pelos adultos.
O que pude verificar também é que as professoras mais jovens estão mais abertas a novos projetos. A mais experiente tem também a intenção de desenvolver um bom trabalho, mas teme a indisciplina e acredita que os alunos não estão preparados para a tomada das principais decisões. Um pouco disso é visto no filme “Escola da Vida” em que um novo professor adota métodos revolucionários, que acabam sendo aceitos pelo professor mais antigo. O mais curioso é que o pai do professor veterano também lecionou na escola. Apesar da idade avançada, ele era amado pelos adolescentes e foi a inspiração para aquele professor que o substituiu depois da morte e revolucionou a escola. No filme, via-se nos 2 professores a intenção de realizar um bom trabalho. Até porque o professor veterano buscava o título de “professor do ano”, que o pai dele conquistou por anos a fio. Em uma cena, ele deixa a classe “livre” para escolher o que quer fazer. E resigna-se à vontade dos alunos de assitir às aulas “teatrais” do outro professor. Um detalhe importante é que o professor jovem conduzia os alunos e passava o conteúdo de forma teatral. O projeto não partia das crianças, mas elas eram encantadas pelo método baseado na fantasia. E esse “encanto” propiciava a aprendizagem efetiva, já que as notas dos alunos refletiam isso. E olha que, em dado momento do filme, há a desconfiança do professor veterano de que as notas eram o motivo da afetividade do outro com seus alunos. E ele, mais tarde, ao também quebrar seus paradigmas e, conseqüentemente, seus métodos, percebe que seus alunos também foram bem nos testes. Pelo amor ao saber.
É esse encantamento que falta às escolas brasileiras de hoje. Pela entrevistas percebe-se que há um desânimo geral. Na escola particular, para se cumprir à risca as ordens da coordenação. Na escola pública, pelo descaso com a aprendizagem. E isso independe da idade do educador. Depende da crença na educação e no próprio trabalho. Por isso acredito que é preciso que cada professor procure em si a chama da magia do saber e do ensinar. Essa é a chama que contagia alunos, comunidades e transforma as relações de aprendizagem. É assim que se criam vínculos afetivos que conduzem e guiam. É preciso, sim, afetividade. Com os alunos e com o próprio ato de educar. É preciso estar encantado para encantar e levar os alunos numa viagem diária e eterna pelo maravilhoso caminho da busca do conhecimento.

Organização e Gestão democrática na escola

Organização e gestão democrática são a base da busca de construção de uma escola de qualidade. Assim, são necessárias medidas que garantam a participação de todos da comunidade escolar. Somente assim, a comunidade aponta caminhos e trabalha, em conjunto com professores e alunos, para que a educação caminhe no sentido da eficiência e do encantamento. Sim, encantamento, porque acredito que atingir os objetivos da educação passa sim, é claro, por qualificação de professores e estrutura escolar. Mas isso tem que estar atrelado ao comprometimento de todos com o que se pretende atingir. Assim, é preciso valorizar a experiência da comunidade e suas necessidades, acolhendo anseios e sonhos. É preciso estimular professores, através da valorização profissional e da oferta de recursos para que possa desenvolver um bom trabalho. É preciso organizar a escola de modo que todos os alunos sejam realmente atendidos e deixem de ser um número numa imensa lista de chamada. E é preciso não esquecer, principalmente, que todas essas reflexões e atitudes só tem sentido porque existem em função de um educando, que tem também seus saberes, seus desejos, seus problemas e suas soluções. Assim, a escola estará voltada para conduzir o aluno por um caminho do saber que, muito antes e ao contrário de ser uma trilha árdua, precisa ser a base da evolução pessoal e da transformação social construída suavemente de forma a conquistar diariamente e a cada momento os educandos. Só assim, mais que conteúdos, é possível despertar em cada um o amor pelo saber, a curiosidade pelo conhecimento e o estímulo para a busca constante do aperfeiçoamento.

LDB: pontos positivos e negativos

Assim como muitas leis no Brasil, o que se vê na LDB, na verdade, são boas intenções que pecam pela falta da organização prática do que prega. Ou seja: tudo é muito bonito no papel, que aceita qualquer coisa, mas esquece-se que o Brasil tem dimensões continentais. E mesmo Estados ricos, principalmente São Paulo, tem contradições e realidades diversas.
Baseando-se no texto de Moacir Gadotti, sobre os pontos que referem-se à formação do professor, percebe-se que vários pontos que podem ser apontados como positivos acabam tendo problemas intrínsecos. Um dos exemplos é a necessidade de formação de Nível Superior para docência, preceito que cai por terra em regiões onde não há professores com essa formação e, para que seja possível manter o sistema educacional, admite-se aqueles “o mais aptos possível” para função. Isso cria ainda mais contrastes entre as grandes cidades e as regiões mais afastadas do país, uma vez que a formação dos cidadãos é totalmente desnivelada.
Entre os pontos positivos, pode-se destacar a possibilidade de reclassificação e desseriação, a obrigatoriedade de 4 horas mínimas diárias de trabalho em sala de aula, o regime de colaboração entre a União, Estados e Municípios, os processos nacionais de avaliação escolar, o conceito de Gestão Democrática e autonomia da escola, a incorporação da educação infantil ao sistema de ensino e a criação dos sistemas municipais de ensino.
Entre os destaques negativos, está a visão relativamente obsoleta da educação, a visão do conhecimento como algo a ser adquirido e não construído, a referência à
informática apenas no ensino à distância, e a pouca atenção à educação de jovens e adultos.
É necessário, portanto, que professores e os demais profissionais ligados à educação conheçam e reflitam sobre o que manda a lei, para que a prática possa utilizar o que nela há de melhor e resgatar o que falta através de projetos sérios que envolvam a sociedade como um todo. Somente através desse envolvimento será possível complementar a legislação, para que se chegue a uma educação de qualidade real no Brasil.